terça-feira, 22 de maio de 2018

Quero Café!


O dia não começa sem uma boa dose de café. Para muita gente – e eu me incluo nesse grupo – o dia sequer prossegue sem uma caneca caprichada da bebida sagrada. A verdade é a seguinte: café é bom demais. Se você aprecia essa lendária bebida, sabe do que eu estou falando. O aroma estonteante e o sabor ímpar provocam sensações apoteóticas em qualquer mortal.

E foi bebendo uma caneca quente de café que eu comecei a indagar: quem foi o gênio que trouxe tamanha maravilha para a humanidade? Como diriam Rick e Renner: é coisa de Deus.

Será que alguém, em um dia de tédio, pensou: “Nada para fazer. Já sei! Vou colher frutinhas vermelhas, colocá-las para secar ao Sol, torrar os grãos, moê-los até virarem pó, misturar o pó com água fervendo e beber!” Intrigante.

Movido pela curiosidade que se espalhava pela minha alma enquanto eu respirava o saboroso aroma do café na minha caneca, resolvi buscar a resposta para tal mistério. Tomei um gole caprichado, quase queimando minha língua no processo, e fui até o grande Oráculo – o Google. Compartilharei minhas descobertas com vocês nas próximas linhas.

Eram meados do século VI, antiga Abissínia (atual Etiópia). Tikusi Buna havia acordado cedo, como de costume. Geralmente não tinha dificuldades em se levantar juntamente com Sol. Porém, naquele dia em especial, se sentia muito sonolento. Talvez fosse efeito da noitada anterior. Nunca mais iria beber, havia prometido para se mesmo.

A esposa de Tikusi ainda dormia quando o abissínio saiu de casa. Ele era pastor e precisava levar suas cabras para pastar. As pobrezinhas eram seu ganha pão e não podiam ser negligenciadas por conta da ressaca. Por conta disso, seguiu com o rebanho até os campos.

Terminado o pastoreio, ao final da tarde, Tikusi percebeu que as cabras estavam estranhas. Os animais pareciam eufóricos. Saltavam e berravam sem parar. Guiar as criaturas até sua roça foi uma tarefa árdua para nosso herói – que, aquela altura, estava com a cabeça prestes a explodir.

Para a surpresa do bom pastor, o peculiar comportamento de suas cabras persistiu nos dias seguintes, sempre após o pastoreio. Agitação, saltos e berros. Diante do contexto, Tikusi Buna começou a considerar a interferência sobrenatural como causadora daquela misteriosa forma de agir dos bichinhos. “Talvez as cabras estejam possuídas por algum demônio” – pensou Tikusi.

Confuso e preocupado, o bom pastor procurou seu amigo de longa data, o monge Buruki, para solucionar aquela questão de outro mundo. Buruki era especialista em exorcismos de cabras. Já havia despachado mais de 50 espíritos do mal para fora dos caprinos. O problema seria solucionado com certeza.

Soturnos, mas determinados, os integrantes daquela improvável caravana – pastor, monge e cabra - partiram para os campos à primeira luz da manhã. Buruki, com seus olhos treinados de monge, observava as cabras comendo a vegetação do lugar. Ao menor sinal de possessão, ele agiria. Eis que o pastor Tikusi percebeu algo intrigante: as cabras – como que já acostumadas – pastavam organizadamente até uma curiosa planta. Era uma árvore pequena, cheia de folhas e com frutos avermelhados. Uma a uma, as cabras foram comendo os frutos da árvore. Poucos instantes depois, a intrigante agitação começava novamente. Saltos e berros movimentavam o ambiente.

Tomando notas do ocorrido, o monge Buruki coletou algumas das frutas vermelhas e guardou dentro do bocapiu que carregava. Mais tarde, naquela noite, juntamente com Tikusi e outros monges, ao redor da fogueira no centro da tribo, algo fantástico aconteceu.
As fontes não são cem por cento seguras, mas todas as evidências levam a crer que – possuído pelo espírito de uma cabra ancestral que havia morrido por overdose da fruta vermelha – o monge Buruki deu início ao ritual de transformação da frutinha. Colocou-as para secar, torrou-as, moeu-as, misturou o pó com água fervente e bebeu o drink recém preparado. Os outros monges e o pastor Tikusi experimentaram aquela bebida exótica também.

O que aconteceu em seguida marcou a humanidade para sempre. Poucos instantes após provarem do café pela primeira vez, monges e pastor sentiram a mesma euforia que possuía as cabras todas as noites. Rapidamente, humanos e caprinos se agitavam, saltavam e berravam.

E foi assim, meus amigos, que - em uma noite alegre na Etiópia do século VI – a bebida mágica, o elixir da energia, dava as caras na Terra para nunca mais partir.

Hoje em dia, o café é quase tão importante quanto a água. Alguns gostam de beber para começar o dia radiante. Outros bebem café para dormir – conheço gente assim. E realmente dormem – aquele sono tranquilo dos bem cafeinados.

O café está em toda parte: salas de espera, mesas de buffet, casas de família. Alguns dizem que podem sentir a cabra ancestral saltando e berrando dentro de si após uma boa xícara.

Mitologia à parte, são inegáveis as benesses do café para os seres-humanos. A ciência mostra que – por conta dos agentes antioxidantes presentes em sua composição, bem como sua da capacidade estimulante – o café é um grande aliado na prevenção de doenças como o câncer e a osteoporose.

Ainda, é arma eficaz contra a depressão, abaixando em grande quantidade as chances de um indivíduo cometer suicídio. Isso ocorre pois o café funciona como antidepressivo. O estímulo que a bebida causa ao sistema nervoso central aumenta a produção de neurotransmissores no cérebro, como a serotonina, dopamina e noradrenalina.

Pois é, meus amigos, o café é bom e faz bem. Mas, como tudo na vida, é importante evitar os excessos. Quantidades exageradas de cafeína podem causar transtorno mental temporário e abstinência. Ainda, se você se afogar no café – coisa que dá vontade de fazer – você pode sofrer de inquietação, nervosismo, desconforto gastrointestinal, insônia. Sendo assim, beba com moderação.

O café aquece o corpo e a alma. Ajuda na hora de estudar, de trabalhar, de matar a fome. Para tirar o melhor que essa bebida fantástica tem a nos oferecer, pegue leve na dose. Caso contrário, você pode acabar como a cabra ancestral e sofrer uma overdose. Dito isso, vou encher a minha caneca. Que Tisuki, Bukuri e a cabra ancestral estejam com vocês. Até a próxima.

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