sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Sobre idiotas e buzinas



Você está dentro do carro, caminhando pela rua, em casa ou em Júpiter. De repente, você escuta aquele som. Passam-se segundos, minutos, horas, ciclos maias, o mundo acaba 6 vezes e o som continua. Mas o que é esta sinfonia do inferno? A resposta é simples: alguém está segurando a buzina.

Existem buzinas que alcançam a marca de 118 decibéis. Isto significa que mantê-las acionadas por alguns instantes é o suficiente para incomodar mais do que uma horda de elefantes cantando músicas sobre elefantes que incomodam muita gente. Na verdade, uma buzinada incomoda muito mais. Mas por que as pessoas fazem tanto isso? Por que apertam a buzina e seguram como se sua vida dependesse disso? Será que essas pessoas não ouvem o som caótico que estão produzindo? Após muito deliberar sobre estas questões da psicologia buzinística, cheguei a uma conclusão: são pessoas chatas pra caralho.

Geralmente as buzinadas ocorrem em momentos de engarrafamento. O trânsito intenso é um fator muito interessante, pois é nele que muitas vezes os motoristas conseguem realizar as mais diversas atividades, menos dirigir. Acontece mais ou menos assim: as pessoas saem de carro, as ruas ficam cheias, a velocidade média vai diminuindo, até que todos ficam em fila e os carros não podem mais se movimentar. “Como posso resolver esta situação?”, pensa alguém no engarrafamento. “Já sei! Vou usar minha buzina mágica!”. O que vem a seguir você já sabe. O que você talvez não saiba – se for adepto desse hábito estúpido – é que certa vez um cientista bastante famoso, Isaac (vamos dançar esse reggae) Newton constatou algo bem interessante em uma de suas leis: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Ou seja, você pode apertar sua buzina até ela falar, mas o seu carro não vai passar através dos outros. Ao menos que ele voe, aí tudo bem.

Falando um pouco mais sério agora, buzinar loucamente não faz sentido, acredite. Se o trânsito não está andando, é porque algo não permite que ele ande. Eu realmente não acredito que todos que estão ali na mesma situação que você sintam prazer em ficar parados, com a perna esquerda doendo de tanto apertar a embreagem para trocar de marcha, durante vários minutos – às vezes horas – a ponto de não quererem chegar em casa. Além disso, a espécie humana é extremamente ruim e miserável. Sendo assim, se o motivo do caos for alguém mais idiota do que o buzinador, buzinar simplesmente vai fazer com que a misera demore o triplo do tempo para sair da frente, só de pirraça.

Não estou escrevendo isso tudo para propor um boicote às buzinas. Não, elas são importantes. Mas saiba utilizar. Dê quatrocentos toques leves se for necessário para alertar alguém, mas, pelo amor de Deus, não fique segurando por momentos sem fim.

Quando você buzina loucamente, o som chega não somente ao seu alvo, mas a todo arredor, incluindo casas, hospitais e seja lá o que tiver por perto. Um exemplo interessante acontece aqui no meu bairro. A rua mais estreita é justamente onde está localizada uma clínica que atende crianças com necessidades especiais. No horário de pico, passa apenas um carro por vez, em fila. Muitas vezes o fluxo para, devido ao número de veículos na avenida principal que fica no fim dessa rua. O que as pestes fazem? Buzinam por mais de um minuto (não é exagero, já contei uma que alcançou essa marca) sem parar, em frente à clínica. Tenho certeza que esta pessoa iria adorar ir a uma consulta, morrendo de dor de cabeça, agonizando, sofrendo, e ao invés de ouvir a receita do médico, ouvir a sinfonia do inferno.

Portanto, quando você estiver dirigindo, relaxe. Alertar com a buzina normalmente é como se você dissesse “licença”, ou “calma ai, estou atrás”. Porém, segurar a buzina como um maníaco é como se você gritasse um “SAI DA FRENTEEEE, DESGRAÇAAA! PORRRA!!!! AHHHHHH! SOU DÉEEEBIL!!!! FUGI DO HOSPÍCIOOOO!!!”. Qual das duas formas você acha que funcionaria melhor? Por fim, não caia nessa, não seja idiota, não seja chato. Lembre-se, diga não à buzinada.