quinta-feira, 24 de maio de 2018

A culpa é das estrelas?



Sempre achei essa coisa de signo bastante curiosa. Como é possível definir a personalidade de alguém com base em observações astrológicas? Como é que o posicionamento dos corpos celestes pode influenciar as relações humanas? Diga-me, meu caro, como é que as estrelas fazem de você ciumento, emotivo ou convencido? Não fazia nenhum sentido.

Até que em um belo dia tentaram me convencer do contrário. A proposta era simples: eu deveria fazer meu “mapa astral” completo. Ora, apenas saber que eu sou do signo de Escorpião não diz muita coisa. Era preciso ter o panorama completo. Pois bem, aceitei a proposta. “Façamos o mapa astral”, disse eu.

Pois bem, acessei um site especializado no assunto a fim de saber qual era de mesma desse tal mapa. Após um breve questionário - que envolvia quesitos como data e horário preciso do meu nascimento, além das coordenadas geográficas do meu local natal -, o mapa estava finalizado. Será que ele mostraria o caminho?

É aí que a coisa fica curiosa, meus amigos. Os astros deviam estar alinhados naquele dia. O fato é que eu não sei o que aconteceu, e, se aconteceu, não estou sabendo.

O site me entregou o mapa astral, conforme prometido. É basicamente uma grande encruzilhada celestial. Vênus em Escorpião. Lua em Capricórnio. Ascendente em Áries. Parecia que eu estava dentro de um episódio de Cavaleiros do Zodíaco. Comecei a acreditar que, ao final desse mapa, eu encontraria minha armadura de ouro. Mas não foi isso que aconteceu.

Acreditem, meus amigos, cada definição que o tal mapa fazia combinava perfeitamente com minha personalidade. Eu fiquei abismado de verdade. O site estava expondo coisas que eu não costumo comentar acerca da minha natureza. “Como assim?” – pensei. Só pode ser coisa do Cão.

À medida que eu me aprofundava na leitura do meu recém-elaborado mapa astral, eu me deparava com umas coisas bem desagradáveis.  

Descobri que, por meu Sol e Saturno estarem em quadratura (what??), tenho traços pessimistas e que as coisas são sempre difíceis. Ainda, descobri que minha sensibilidade tem muito a ver com meus ossos e joelhos. Não preciso dizer que, assim que eu li isso, senti vontade de comprar sete caixas de Calcitran B12, só pra dar uma reforçada na minha sensibilidade.

Depois de sofrer essa overdose astral, passei um bom tempo acreditando que essa coisa de signo talvez fizesse algum sentido. Porém, com o passar do tempo, comecei a pensar de forma mais racional. Talvez por conta do meu Netuno em Capricórnio, que me faz pragmático ao lidar com assuntos abstratos.

Certamente você conhece alguém que se justifica através do signo. Talvez você seja assim. É aquela pessoa que joga o celular do parceiro/parceira na privada em uma briga, mas depois diz que não teve a intenção, pois o ciúme é por causa do Sol em Escorpião. Ou, também, aquela pessoa que demora 27 minutos para escolher o queijo no Subway e diz que a culpa é do seu signo de Gêmeos.

Eu não sei dizer se as constelações causam efeitos psicológicos em nossa existência. A Lua é capaz de alterar as marés. Se Lua toca no mar, ela pode nos tocar, diria Sandy Junior (sim, pra mim eles são uma pessoa só).

Entretanto, pouco importa se a coisa de signo é verdade ou não. Em verdade, acho até legal um pouco de misticismo em nossas vidas – culpa do meu Júpiter em Escorpião. Porém, uma coisa é certa: somos responsáveis por nossas atitudes.

Culpar as estrelas por alguma coisa que você fez ou disse é, certamente, uma atitude pouco corajosa. Por maior que seja a influência que sofremos do meio o qual estejamos expostos, é inegável que nossa capacidade de pensar racionalmente nos dá um pouquinho de liberdade.

A mente consciente é a maior benção que podemos receber. Sendo assim, por mais que não possamos controlar o que acontece no mundo, somos capazes de decidir como agir diante daquela situação que nos foi imposta.

Em outras palavras, você pode até ser do signo de Áries – sinônimo de gente briguenta, segundo o mundo dos signos -, mas isso não lhe autoriza a sair mandando todo mundo para a puta que pariu a bel-prazer.

O que eu quero dizer é que nosso jeito de ser, seja por causa do nosso signo ou não, não pode ser utilizado como desculpa para nossos erros. O que fazemos tem consequência nas vidas de outras pessoas, tenho certeza que você sabe disso. Então, é preciso ter cuidado.

Ter autoconhecimento é fundamental para o exercício da nossa liberdade. Se você sabe que se irrita com facilidade, se prepare psicologicamente para enfrentar o engarrafamento da Semana Santa. Se você sabe que é ciumento/ciumenta, reflita se seus pensamentos apresentam evidências que os tornem verdadeiros antes de atirar o celular de alguém na privada. Enfim, se você sabe qual é seu signo, perceba quais são seus pontos fracos e se prepare para situações onde estes pontos fracos serão colocados em teste.

É muito mais fácil terceirizar a culpa do que assumir a responsabilidade. Entretanto, aí está a chave de toda essa conversa: responsabilidade.

Como eu disse anteriormente, não podemos controlar o mundo. Certamente muita coisa que acontece na vida não é nossa culpa. Porém, é nossa responsabilidade. Perceba o que eu quero dizer.

Você não tem culpa se um raio cair em cima do seu carro zero, financiado em 567 meses, e destruí-lo por completo. Entretanto, é sua responsabilidade decidir se vai amaldiçoar a vida pelo carro explodido ou ser grato por não estar dentro do automóvel no momento do acidente.

Então, meus amigos, vamos parar de encher o saco dos astros o tempo. A vida acontece dentro da Terra, não fora dela. Sendo assim, horóscopo do dia: os signos estão alinhados com a mente, causando uma nova forma de encarar a vida.

Lembre-se: a culpa pode até ser das estrelas, mas a responsabilidade é nossa.

Rafael Verdival

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