terça-feira, 22 de maio de 2018

Eternidade


Hoje me veio à mente o efêmero. Mas antes que você pense que isto aqui é mais um daqueles devaneios de alta complexidade, cheio de palavras loucas, pouca objetividade e não muito a dizer, saiba de uma coisa: eu aprendi a palavra “efêmera” lendo “O Pequeno Príncipe”. Então isso aqui pode ser até ser um devaneio – e eu tenho quase certeza que, de fato, é -, pode até ter uma palavra louca ou outra, mas não vai ser tão complexo assim. Eu acho.

Pois bem, como eu ia dizendo, hoje me veio à mente o efêmero. Como me ensinou a Raposa – do Pequeno Príncipe -, “efêmero” é algo que vem e logo vai embora. É algo destinado a acabar. E foi pensando no que acaba que eu comecei a viajar no que não acaba. O famoso “eterno”. A eternidade é uma abstração tão grande, mas tão astuta, que consegue se esconder atrás dos panos do nosso senso comum de forma sublime. Porém, se a gente parar pra tirar esses panos do varal, não fica difícil notar a densidade dessa concepção. Eternidade.

Safadão já dizia: “na vida nem tudo é pra sempre”. Como todos já sabemos, o mestre do safadismo se referia, na passagem acima, ao amor. Essa ideia é um clássico clichê. O tempo todo nós somos bombardeados com a ideia de amor eterno. Em certa medida, já estamos protegidos dessas bombas. É fácil interceptar a noção de um amor que dura para sempre, basta trazer à tona o clichê de que nada permanece infinitamente – mesmo que esse tudo não passe do célebre sentimento amoroso.

O que eu quero dizer é que a ideia de não-eternidade é muito mais sutil do que a perspectiva de um relacionamento que não vingou. Este assunto eu deixo para Safadão.
A coisa não-eterna se manifesta na mudança. A beleza da coisa está na delicadeza do seu acontecer. Nós não percebemos a mudança da mesma forma como percebemos a luz que se acende ou se apaga ao toque do interruptor. É algo muito mais lento. Porém, depois que acontece, nós pensamos: nossa, como foi rápido!

Se você está mais perdido do que Adão no dia das mães, vamos esclarecer. Quantas coisas que achávamos que durariam para sempre acabaram sem que – sequer – percebêssemos? O MSN que o diga. Não havia forma mais prática de se comunicar. Ainda por cima, era divertido à beça! Tudo bem que o MSN teve um fim oficial. Mas, sinceramente, foi no fim oficial que o MSN acabou? Não. De repente todos estavam usando. A maioria estava usando. Alguns estavam usando. Poucos estavam usando. Ninguém estava usando. Não havia mais ninguém para ter a atenção chamada.

Outro exemplo foi o Orkut. Não houve uma revolta onde todos simplesmente boicotaram o Orkut e foram publicar suas coisas no Facebook. Foi um processo de decadência. Lenta, progressiva, mas veloz. E foi assim com tanta coisa. Celular V3, MTV, cartinha de Yu-Gi-Oh (coisa do demônio, obviamente), tubaína em garrafa de cerveja... Tudo isso veio, ficou e partiu. Efêmero.

E por que que eu estou viajando nessa coisa de eternidade? Virei de boa com a vida? Acho bonitinho? Não. Foi só um pensamento que veio com força, causou impacto que me fez iniciar esse texto e – ao escrever estas palavras – já se esvaeceu, dando lugar a novos.

Entretanto, em meio a esse vai e vem, acho que vale a pena dizer o seguinte. Se você gosta muito de alguma coisa, aproveite essa coisa agora. Que essa coisa não durará, não há como negar. O problema é que, talvez, você nem saiba como acaba. Um belo dia você estará lavando os pratos e vai lembrar, mas aí só vai ter restado nostalgia.

O Pequeno Príncipe é um grande livro. Para alguns, uma obra que foi eternizada. Porém, não acredito que seja uma obra eterna. A eternidade é algo complicado de se constatar. Mesmo que os seres humanos se lembrem do Pequeno Príncipe por muito tempo, quem garante que – mais dias, menos dias – não haverá um acaso que vai colocar um ponto final na raça humana e em todas as suas memórias?

Mesmo que uma coisa não acabe por conta própria, sempre há a possibilidade de o universo acabar e tudo acabar junto. Parando para pensar, até mesmo a eternidade é questionável.

Alguém pode dizer que, em algum momento, pode surgir algo eterno. Sei lá, talvez o próprio universo. Porém, para saber se o universo é de fato eterno, alguém precisaria ser eterno também, estando hábil a acompanhar toda essa infinitude por todo o sempre (boa sorte).

Mesmo assim, não haveria qualquer garantia de que a eternidade é real. Afinal de contas, enquanto algo é, sempre haverá a chance de deixar de ser. Enquanto esse sujeito eterno vai se estendendo pelo tempo, poderá acontecer alguma coisa que lhe sente a desgraça e o extermine da face do universo, ou seja lá de que porra estejamos falando à essa altura.

Coisa de louco, não é?

Uma coisa é certa (ou não): nada é eterno. Em outras palavras, tudo vai acabar um dia. Acredite, até o mesmo Domingão do Faustão vai acabar mais cedo ou mais tarde. Provavelmente, quando esse dia chegar, mudarão seu nome para outra coisa que não seja “domingo”. Talvez seja um dia mais legal também – o que acabaria com a ideia do “Domingo Legal”, que não é eterno também, mas isso não vem ao caso agora. Mas o fato é: um dia o Domingão do Faustão vai acabar. Enquanto não acaba, nós aproveitamos. E assim a vida segue. 

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