terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Meu sobrenome e Eu



Bem, antes de falar das coisas que estou pretendendo nesse humilde blog, gostaria de fazer uma observação. Vamos considerar que eu não seja, necessariamente, uma pessoa. “Que loucura é essa, man?”, você pode estar se perguntando. Vou explicar: para que eu possa realizar as observações pretendidas sem me auto escaldar, preciso me considerar como uma abstração personificada. Em outras palavras, vou me considerar um modelo ideal de ser humano, alheio a qualquer inclinação propiciadora de críticas ou elogios. Dito isso, vamos ao que interessa.

Meu nome é Rafael e meu sobrenome é Verdival. Não sei o que meu sobrenome significa, tampouco sei se realmente significa alguma coisa. O que eu realmente sei é que ele está grafado em português, logo, não tem nenhum segredo na sua pronúncia. Deixando de lado a epistemologia do meu sobrenome, gostaria de afirmar: eu gosto do meu sobrenome. Acho legal, gosto de como soa, gosto das formas das letras quando está grafado no papel. Além disso, acho um nome absolutamente fácil de ser compreendido. Entretanto, acho que essa opinião não é universal.

Há algum tempo eu tenho enfrentado problemas cognitivos quando o assunto é meu nome. Para começar, vou citar o próprio Word. Sim, o Word, nossa máquina de datilografar do terceiro milênio, como diria Galvão Bueno. O Word conspira contra mim, posso sentir isso. Toda vez que digito “Verdival” em suas alvas páginas virtuais, sou obrigado a admitir a presença daquela intimidadora linha vermelha abaixo do meu humilde vernáculo referencial. É como se o Word olhasse nos meus olhos e dissesse: “Vai aprender a escrever seu nome, babaca!”.

É triste, mas é verdade. Houve um tempo em que eu tentei resistir à tamanha opressão. Clicava com o botão direito sobre o “Verdival” e procurava a opção “ignorar”. Parei com isso. O motivo é simples. Sempre que eu clicava com o botão direito sobre meu nome eu era obrigado a visualizar as sugestões que o maravilhoso Word trazia para corrigir minha ignorância nominal. A lista era considerável, e nela havia coisas maravilhosas como: Vendaval, Vertical, Vendível e, não me pergunte por que, Percival (corta pra mim). Passei a odiar linhas vermelhas.

Saindo do universo virtual, ingressamos na realidade, mas as coisas nem sempre são diferentes. A resistência ao novo deixa as pessoas tão criativas que até mesmo Da Vinci ficaria com recalque. Admito, Verdival (maldita linha vermelha) não é um nome que você vê por aí todo dia. Eu mesmo só conheço meu pai e eu. Mas pera aí, não é tão difícil assim de entender! Vamos lá, é simples: pegue uma das cores da bandeira nacional e junte com o apelido de alguma fazedora de lanches habilidosa. Eis então meu sobrenome, Verdival. Não foi fácil? Então só pode ser preguiça de ouvir.

Mas eu não sou como o Word. Não, eu não corrijo. Quem sou eu pra corrigir alguma coisa? Por conta disso, acho que já fui chamado de mais nomes do que aipim ao redor do Brasil. Em determinada ocasião, estava eu na escola, quando a professora fez uma pergunta sobre o assunto dado. Como ela se referiu a mim? Verdevale. Não me importei. Ora, ela pode ter entendido mal, foi um engano sutil. Quem sabe ela não pensava em algum campo de gramíneas que ela gostaria de estar naquele momento? Seguimos, então.

Tempos depois, conversávamos eu e um cara na academia. Assunto polêmico, o uso de anabolizantes. O cara era entendido do assunto, falava sobre os prejuízos à saúde por conta dessas substâncias, eu concordava com ele. Conversa interessante, até que ele larga: “Esses caras que usam anabolizantes acabam com a própria saúde, né não, REDVALE?”.

Pausa para refletir. Redvale. Quanta classe, quanto técnica criativa, quanto astúcia. Essa foi, sem dúvida, uma das melhores variações do meu nome que já vi. Não só trocou a cor, como trocou o idioma. Simplesmente fantástico. Tudo que pude pensar foi que o Vale Verde que minha professora imaginava se localizava em algum lugar na Califórnia e estava pegando fogo naquele momento.

E assim vem sendo. Acho que atualmente sou capaz de responder por qualquer palavra que termine com algo que soe parecido com “au”. Isso porque já respondi por coisas como: Verdevale, Valverde, Redvale, Bérdival (?), Verde e Oval, Verde Val, Landeslau e etc. Parece mentira, mas acredite, não é.

Porém, não pense que isso me irrita, ou que eu não gosto. Acho até interessante. As pessoas simplesmente estão ocupadas demais pensando nos próprios nomes para se importarem com os dos outros. Solução prática foi a encontrada por alguns amigos. Chamam-me de Verdi. Como diria Jack Sparrow, é simples, fácil de lembrar. Mas é claro que esse apelido já evoluiu. Chamam-me de Verde agora. 


Um comentário:

  1. "Escrever vai muito além das regras impostas por qualquer sistema teórico ou didático: é um modo privilegiado de se descobrir e desvelar humanamente a experiência imperdível de viver", Parabéns pelo belíssimo texto! Parabéns pelo blog. Abraços. Vilma

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