Quando eu estava na antiga quinta série (hoje sexto ano), tive uma professora de matemática (não brinca!). Acontece que essa professora um dia falou algo que me intriga até hoje. Ela disse que o que a gente vê não existe. Eu, indignado desde cedo com os métodos das escolas, logo me revoltei: como assim não existe?
Segundo
a professora, cada coisa que a gente podia ver – sim, com nossos próprios
olhos, na melhor redundância que podemos redundar – na verdade não passava da mais
descarada mentira. A parede branca, as carteiras azuis, o quadro verde. Nada
era real. Para mim, irreal era aquela afirmação que eu tinha acabado de ouvir.
Se
nada existia, como ela estava falando para mim e pros outros capetas
alunos que nada existia? Se uma pessoa fala que nada existe, isso não significa
que ela também não existe? E, se ela não existe, como poderia estar falando que
nada existe? Acho que você já está começando a captar o que se passava na minha
mente de quinta série naquele momento.
Depois
de ter escandalizado a sala com essa afirmação, a tal professora começou a
justificar a existência do nada (ou a não existência de alguma coisa). Como Mister
M revelando seu truque, começou a narrar alguma peripécia científica
relacionada aos raios de luz, às cores e à forma como nosso cérebro interpreta
a coisa toda. Obviamente, eu não entendi absolutamente nada. Na minha cabeça,
simplesmente não fazia sentido dizer que nada existia, sendo que a minha
própria consciência era prova de que alguma coisa existia.
A
explicação da professora passou, o tempo também, mas aquela viagem de que nada
existe ficou. Mais tarde, bolado com essa assertiva que não queria deixar minha
massa cerebral de forma alguma, resolvi dar uma pesquisada na internet e
descobri que existia alguma coisa sobre a não existência.
O
que a nobre docente tentou dizer à época foi que as cores, como nós as
concebemos, não necessariamente representam o “colorido” verdadeiro das coisas.
Em outras palavras, o cérebro de cada um interpreta os raios de luz da forma
como bem entende. Por conta disso, o vermelho que eu vejo pode ser
completamente diferente do vermelho que você vê. Sendo assim, as cores não
existiriam, mas seriam apenas criações das nossas mentes mirabolantes.
Estranho,
não é? Fica pior.
Página
vai, página vem, cheguei até a física quântica. A física, a propósito, é uma
matéria fascinante, da qual admito ser portador do maior desconhecimento. Mas,
voltando ao assunto, cheguei até a física quântica. Bastaram poucas linhas para
minha indignação quintasseriana retornar. Dizia a página: “a matéria não existe
nem no mundo material”.
Como assim?
Vou
tentar resumir esse conceito quântico de maneira simples – tomando como base
meu imenso desconhecimento acerca dos pormenores e pormaiores. Basicamente, se
você for dando zoom em um objeto, ou em uma pessoa (ou qualquer outra coisa que
queira), várias e várias e várias e várias vezes, perceberá que o “menor
tamanho” da matéria, em verdade, não é matéria, mas “energias” girando
loucamente e muito rápido. Portanto, não existe matéria, apenas energia. Logo,
estamos diante de mais uma inexistência.
Ao
contrário do que aconteceu na quinta série, dessa vez a indignação dividiu
espaço com uma reflexão soturna. Eu estava diante de explicações científicas
que afirmavam que duas coisas que sempre pareceram bastante existíveis para mim
– as cores e a matéria – simplesmente não existiam. Entretanto, teimoso como
sou para essas coisas, não fiquei satisfeito.
É
extremamente divertido e intrigante ler sobre coisas que não existem.
Principalmente se há uma explicação para essa inexistência. Porém, em meio aos
vários nadas que vão surgindo à medida que nossa curiosidade se expande, alguns
fatores precisam ser levados em consideração. O conflito existir/ não existir é
um deles.
Que
diferença faz se uma coisa não existe, mas parece que existe?
Se
eu olho para um vestido e digo que é branco e dourado, de fato ele é branco e
dourado para mim. Para mim, existe ali um vestido branco e dourado. Por outro
lado, se você olha e vê um vestido azul e preto, existe ali – para você - um
vestido azul e preto. De que adianta alguém me dizer que não existem cores, se
eu olho para o céu e vejo cores ali? Se meu cérebro inventa as cores, melhor
ainda, pois significa que são cores únicas. Não só existem, como são especiais.
De
que adianta alguém dizer que a matéria não existe, se quando eu bato o dedinho
na quina da mesa dói para caralho? De que adianta alguém me dizer que sou feito
de pura energia se não consigo me livrar das contas da COELBA ou virar o
Super-Choque? Não me sinto como Nescau. Essa energia não me dá gosto.
Voltando
à professora de matemática, lá na quinta série. Ela gostava de desafios. Para
ela, os alunos precisavam ser desafiados para que pudessem crescer. Hoje,
concordo com ela. Porém, na quinta série, achava um saco. Desafio significava
provas mais difíceis. Mas a questão é: para que se desafiar se nada existe? A
resposta talvez esteja na nossa existência particular.
Como
você pôde notar, eu fiquei indignado duas vezes nas linhas acima. Indignado
porque as cores não existem. Indignado porque a matéria não existe. Questionei
qual o sentido de algo não existir, mas parecer que existe. Pois bem, e se o
nosso desafio como humanos for – justamente - existir, ao invés de parecer que
existimos? E se toda essa busca pela inexistência for um dos caminhos que
percorremos na busca do nosso próprio existir? Conversa meio maluca, certo? E é
realmente maluca.
O
que deve ser levado em consideração é o fato de que, existindo ou não, devemos buscar
ao máximo o aprimoramento, para que possamos existir de fato, mesmo que
existamos em um universo que não exista. Parece papo de autoajuda misturado com
entorpecentes, mas não leve a mal. Estamos falando de existência, então tá
liberado.
Continuo
intrigado como na quinta série. Acredito que ficar intrigado faz parte de
existir. Se não ficamos intrigados, já estamos beirando a inexistência. Já que
a intriga (no bom sentido) existe, melhor alimentá-la para que ela nos alimente.
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