Sempre
achei essa coisa de signo bastante curiosa. Como é possível definir a
personalidade de alguém com base em observações astrológicas? Como é que o
posicionamento dos corpos celestes pode influenciar as relações humanas?
Diga-me, meu caro, como é que as estrelas fazem de você ciumento, emotivo ou
convencido? Não fazia nenhum sentido.
Até
que em um belo dia tentaram me convencer do contrário. A proposta era simples:
eu deveria fazer meu “mapa astral” completo. Ora, apenas saber que eu sou do
signo de Escorpião não diz muita coisa. Era preciso ter o panorama completo.
Pois bem, aceitei a proposta. “Façamos o mapa astral”, disse eu.
Pois
bem, acessei um site especializado no
assunto a fim de saber qual era de mesma desse tal mapa. Após um breve
questionário - que envolvia quesitos como data e horário preciso do meu nascimento,
além das coordenadas geográficas do meu local natal -, o mapa estava
finalizado. Será que ele mostraria o caminho?
É aí
que a coisa fica curiosa, meus amigos. Os astros deviam estar alinhados naquele
dia. O fato é que eu não sei o que aconteceu, e, se aconteceu, não estou
sabendo.
O site me entregou o mapa astral, conforme
prometido. É basicamente uma grande encruzilhada celestial. Vênus em Escorpião.
Lua em Capricórnio. Ascendente em Áries. Parecia que eu estava dentro de um
episódio de Cavaleiros do Zodíaco. Comecei a acreditar que, ao final desse
mapa, eu encontraria minha armadura de ouro. Mas não foi isso que aconteceu.
Acreditem,
meus amigos, cada definição que o tal mapa fazia combinava perfeitamente com
minha personalidade. Eu fiquei abismado de verdade. O site estava expondo coisas que eu não costumo comentar acerca da
minha natureza. “Como assim?” – pensei. Só pode ser coisa do Cão.
À
medida que eu me aprofundava na leitura do meu recém-elaborado mapa astral, eu
me deparava com umas coisas bem desagradáveis.
Descobri
que, por meu Sol e Saturno estarem em quadratura (what??), tenho traços
pessimistas e que as coisas são sempre difíceis. Ainda, descobri que minha
sensibilidade tem muito a ver com meus ossos e joelhos. Não preciso dizer que,
assim que eu li isso, senti vontade de comprar sete caixas de Calcitran B12, só
pra dar uma reforçada na minha sensibilidade.
Depois
de sofrer essa overdose astral,
passei um bom tempo acreditando que essa coisa de signo talvez fizesse algum
sentido. Porém, com o passar do tempo, comecei a pensar de forma mais racional.
Talvez por conta do meu Netuno em Capricórnio, que me faz pragmático ao lidar
com assuntos abstratos.
Certamente
você conhece alguém que se justifica através do signo. Talvez você seja assim.
É aquela pessoa que joga o celular do parceiro/parceira na privada em uma
briga, mas depois diz que não teve a intenção, pois o ciúme é por causa do Sol
em Escorpião. Ou, também, aquela pessoa que demora 27 minutos para escolher o
queijo no Subway e diz que a culpa é
do seu signo de Gêmeos.
Eu
não sei dizer se as constelações causam efeitos psicológicos em nossa
existência. A Lua é capaz de alterar as marés. Se Lua toca no mar, ela pode nos
tocar, diria Sandy Junior (sim, pra mim eles são uma pessoa só).
Entretanto,
pouco importa se a coisa de signo é verdade ou não. Em verdade, acho até legal
um pouco de misticismo em nossas vidas – culpa do meu Júpiter em Escorpião.
Porém, uma coisa é certa: somos responsáveis por nossas atitudes.
Culpar
as estrelas por alguma coisa que você fez ou disse é, certamente, uma atitude
pouco corajosa. Por maior que seja a influência que sofremos do meio o qual
estejamos expostos, é inegável que nossa capacidade de pensar racionalmente nos
dá um pouquinho de liberdade.
A
mente consciente é a maior benção que podemos receber. Sendo assim, por mais
que não possamos controlar o que acontece no mundo, somos capazes de decidir
como agir diante daquela situação que nos foi imposta.
Em
outras palavras, você pode até ser do signo de Áries – sinônimo de gente
briguenta, segundo o mundo dos signos -, mas isso não lhe autoriza a sair
mandando todo mundo para a puta que pariu a bel-prazer.
O
que eu quero dizer é que nosso jeito de ser, seja por causa do nosso signo ou
não, não pode ser utilizado como desculpa para nossos erros. O que fazemos tem
consequência nas vidas de outras pessoas, tenho certeza que você sabe disso.
Então, é preciso ter cuidado.
Ter
autoconhecimento é fundamental para o exercício da nossa liberdade. Se você
sabe que se irrita com facilidade, se prepare psicologicamente para enfrentar o
engarrafamento da Semana Santa. Se você sabe que é ciumento/ciumenta, reflita
se seus pensamentos apresentam evidências que os tornem verdadeiros antes de
atirar o celular de alguém na privada. Enfim, se você sabe qual é seu signo,
perceba quais são seus pontos fracos e se prepare para situações onde estes
pontos fracos serão colocados em teste.
É
muito mais fácil terceirizar a culpa do que assumir a responsabilidade.
Entretanto, aí está a chave de toda essa conversa: responsabilidade.
Como
eu disse anteriormente, não podemos controlar o mundo. Certamente muita coisa
que acontece na vida não é nossa culpa. Porém, é nossa responsabilidade.
Perceba o que eu quero dizer.
Você
não tem culpa se um raio cair em cima do seu carro zero, financiado em 567
meses, e destruí-lo por completo. Entretanto, é sua responsabilidade decidir se
vai amaldiçoar a vida pelo carro explodido ou ser grato por não estar dentro do
automóvel no momento do acidente.
Então,
meus amigos, vamos parar de encher o saco dos astros o tempo. A vida acontece
dentro da Terra, não fora dela. Sendo assim, horóscopo do dia: os signos estão
alinhados com a mente, causando uma nova forma de encarar a vida.
Lembre-se:
a culpa pode até ser das estrelas, mas a responsabilidade é nossa.
Rafael Verdival
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