Polêmica! Haaaaa!
Leo Santana (esq) e M. Shadows (dir) |
O rock n’ roll e o
pagode sempre titularizaram uma rivalidade histórica. Geralmente, os adeptos do
bom e velho rock n’ roll não são muito chegados ao pagode. Do outro lado, quem
gosta de uma quebradeira também nutre sentimentos pouco amigáveis em relação às
músicas do capiroto ao rock. São estilos musicais diferentes que
representam estilos culturais diferentes. Como as pessoas, em geral, curtem uma
confusão, eis a troca de gentilezas constantes entre roqueiros e pagodeiros.
Verdade seja dita, eu,
como um amante do rock n’ roll, sempre ficava com um pé atrás quando o assunto
era pagode. Entretanto, em um momento de elevação espiritual e busca pelo
engrandecimento do ser, resolvi abrir meu coração e observar os dois ritmos, os
dois estilos, como quem observa os voos de um pelicano (pelicano voa? Acho que
sim, enfim...) e de uma arara. O resultado foi uma descoberta fascinante, ambas
voam no mesmo céu. Se você não entendeu nada desse momento poético, vou
traduzir: acontece que apesar de toda discrepância instrumental, ideológica e
cultural, o rock n’ roll e o pagode têm muita coisa em comum. É com base nessa
observação que fiz no meu momento de reflexão que trarei neste post alguns
pedaços do elo escondido entre o rock n’ roll e o pagode.
Guardem as facas para
depois do post.
A
ORIGEM
Não vamos fazer aqui
uma análise histórica aprofundada do rock n’ roll e do pagode, e sim observar
um ponto comum no despojar dos dois estilos: a origem.
O rock n’ roll, quando
ainda estava engatinhando, recém-desgarrado do blues e do R&B, era tocado
por homens negros, muitas vezes sem emprego, que vagavam pelo país carregando
apenas sua musicalidade e seu violão. A influência da música africana foi muito
intensa na formação do estilo. Lá na América do Norte, o rock n’ roll vagava
com esses homens pelas regiões mais pobres dos Estados Unidos.
Posteriormente, com o
desenvolvimento do estilo, várias ramificações foram surgindo, mas o caráter
periférico persistia. O heavy metal, com toda a obscuridade que trouxe nos anos
70; o punk rock, com a rebeldia e o protesto; e o grunge, movimento surgido no
interior americano, em cidades onde a madeiraria movimentava a economia, são
exemplos de vertentes do rock que nasceram marginalizadas.
Com o pagode não foi
diferente. O samba, raiz do estilo, era perseguido antigamente. Se você um dia
arrumar uma máquina do tempo e resolver passear pelas ruas do Rio de Janeiro, lá
pelas bandas de 1920, tome cuidado. Afinal, quem fosse pego batucando naquela
época provavelmente ganharia uma noite grátis no xilindró. Além da iminente
marginalidade que era ligada ao estilo, temos mais uma vez a presença da
influência africana na formação da musicalidade deste.
O samba também se desenvolveu,
e dele surgiram novas ramificações, das quais o pagodão baiano, foco da nossa
comparação. Essa modalidade do pagode, assim como ocorreu com o punk, heavy
metal e grunge, é um movimento periférico. Muitas bandas de pagode originam das
favelas de Salvador e representam o contexto social e a cultura popular desses
locais.
Sim, temos países
diferentes na brincadeira. Entretanto, estar à margem é estar afastado do padrão
em qualquer lugar do mundo. Por conta disso, por serem movimentos periféricos,
temos aqui o primeiro ponto de afinidade entre o rock n’ roll e o pagode.
EXPLOSÃO
Outro ponto que achei
extremamente familiar ao rock e ao pagode é a questão da explosão. Já tentei
explicar isso para alguns amigos, mas descobri que é algo bastante complicado.
A oposição entre os dois tipos é tão bem fixada em nossas cabeças que a
visualização das afinidades fica comprometida. Mas lembrem-se, hoje é dia de
rock de elevação, então vamos começar a subir as “escadarias para o
céu” (piadinha rock n’ roll hahahaha, traduza para o inglês e jogue no google
se não entendeu :D).
Isso que denomino
“explosão” seria a intensidade que é manifestada nas apresentações ao vivo dos
dois estilos. Claro, todo tipo de música é capaz de gerar essa empolgação, esse
êxtase. Porém, no rock n’ roll e no pagode, essa eletricidade se exterioriza de
maneira bem semelhante. A própria música de fato, tanto no rock (mais pesado,
especificamente), quanto no pagode, apresenta uma coisa parecida. É aquela
zoada, aquela loucura, aquela vontade louca que te dá de aumentar o som (ou
gritar para que o desgraçado do cara na rua abaixe aquela porra). O rock e o
pagode simplesmente conseguem explodir. Por conta disso, as apresentações ao
vivo promovem uma conexão interessante entre público e banda. Se eu fosse
viajar mais do que já estou viajando, diria que a “essência da bagaceira” vem
da mesma fonte de explosão.
Para ilustrar o que
estou dizendo, e você perceber que não estou maluco, vamos assistir dois vídeos
curtos:
Esse primeiro é de uma
apresentação da banda Avenged Sevenfold. Assista a partir dos 50 segundos de
vídeo.
Repare que se você
abaixar o volume do vídeo e colocar um CD de Black Style enquanto assiste, encaixará
perfeitamente.
Agora o segundo. Veja a
partir dos 3:30 min.
Trata-se de uma
apresentação de Igor Kannário no carnaval de Salvador. Não há como negar, é a
mesma explosão.
TEMÁTICA
DAS LETRAS
Bem, nesse ponto vale
lembrar que, realmente, a diferença no conteúdo, de forma geral, das letras de
rock e de pagode é bastante grande.
Maaaaaaaaas...
Como bons parentes
distantes que são - frutos da música africana e nascidos na marginalidade -, rock
n’ roll e pagode vez ou outra acabam falando das mesmas coisas sem nem
perceber.
Pagode, Rock n’ Roll,
não tentem negar, o Elo Escondido existe, vocês têm sua parcela de
conectividade. Se não acreditam no que digo, separei uns versos para mostrar a
vossas maestrias.
Primeiramente, vamos ver os dois primeiros
versos da música “Cigaro”, da banda System of a Down:
“My cock
is much bigger than yours
My cock can walk right through the door”
My cock can walk right through the door”
Bem, como isso aqui é
um blog de respeito, não vou traduzir literalmente o trecho. Entretanto, cabe dizer
que o eu-lírico, nos versos em questão, se gaba por ter uma característica
masculina muito mais avantajada do que a do seu interlocutor. Para enfatizar a
diferença, ele ainda afirma que essa característica consegue atravessar pela
porta, devido ao seu comprimento.
Agora vamos analisar os
versos do refrão da canção “Rala a Tcheca no Chão”, do Black Style:
“Rala a tcheca no chão, chão
Rala a tcheca no chão, chão chão chão
Rala a tcheca no chão,
A tcheca no chão, a tcheca no chão, mamãe...”
Rala a tcheca no chão, chão chão chão
Rala a tcheca no chão,
A tcheca no chão, a tcheca no chão, mamãe...”
Trata-se de um
incentivo, camuflado por eufemismo e metáforas poéticas, a realização de
movimentos, por parte da mulher, que remetem a atos libidinosos.
Em ambos os casos, rock
n’ roll e pagode trouxeram em suas músicas expressões de conotação sexual, as
quais podem causar incômodo ou constrangimento em pessoas de moralidade mais
rígida. Essas expressões não são mais do que manifestações do contexto marginal
intrínseco ao rock n’ roll e ao pagode.
Mas não há só lado
negro nas músicas. Vamos ver mais alguns versos. Primeiramente, um trecho
traduzido da canção “In the Ghetto”,
interpretada pelo Rei do Rock, Elvis Presley.
“E a
fome aperta
Então ele começa a vagar nas ruas à noite
E aprende a roubar
E aprende e lutar
No gueto
Então em uma noite de desespero
O jovem foge
Compra uma arma, rouba um carro,
Tenta fugir, mas não chega longe
E sua mãe chora”
Então ele começa a vagar nas ruas à noite
E aprende a roubar
E aprende e lutar
No gueto
Então em uma noite de desespero
O jovem foge
Compra uma arma, rouba um carro,
Tenta fugir, mas não chega longe
E sua mãe chora”
Agora o refrão da
música “Realidade Dura da Favela”, do
Fantasmão.
“Gueto,
preto, pedra
Morre ou vai pra cela
Realidade dura da favela”
Morre ou vai pra cela
Realidade dura da favela”
Antes dos comentários,
vejamos outra parte de “In the Ghetto”.
“E
sua mãe chora
Porque se existe uma coisa que ela não precisa
É outra boca faminta para alimentar
No gueto”
Porque se existe uma coisa que ela não precisa
É outra boca faminta para alimentar
No gueto”
De volta ao Fantasmão.
“Mesmo que a dor seja preciso
Feijão faltou
Guri chorou
Desmoronou”
Feijão faltou
Guri chorou
Desmoronou”
Esses trechos são
interessantes. Canções de épocas diferentes, estilos diferentes, países
diferentes, mas com muita coisa em comum. Percebemos, claramente, a descrição
de uma vida nas favelas, nos subúrbios marginalizados. Rock n’ Roll e Pagode,
ritmos tão separados culturalmente, mas falando da mesma coisa, da mesma forma.
O motivo é não outro senão a necessidade de olhar para si mesmo. Em ambas as
canções o que temos é a expressão da triste realidade que serve de berço para
esses tipos musicais. Esse é mais um ponto de afinidade entre rock e pagode.
E como menção honrosa,
vamos deixar apenas o título de duas canções, onde o eu-lírico necessita ouvir
o lamento do seu instrumento musical.
-While My Guitar Gently
Weeps (Enquanto Minha Guitarra Chora Gentilmente), Beatles.
-Mandei Meu Cavaco
Chorar, Harmonia do Samba.
DEDICAÇÃO
DOS ADEPTOS
Para encerrar essa
comparação inusitada, mas possível, vamos falar dos adeptos. Sim, porque sem
eles não haveria polêmica nenhuma para comentar, nem Elo Escondido para
revelar.
Por mais louco que
possa parecer, uma das coisas que assemelha o pagode e o rock são justamente os
fãs de cada estilo. Quando digo fãs, ou adeptos, me refiro aos militantes
radicais, aqueles que só vislumbram o rock n’ roll e aqueles que nada mais
percebem além do pagodão. Esses adeptos são fiéis à ideologia do estilo que
seguem de maneira bastante intensa. Essa devoção ocorre no modo de se vestir,
nas expressões utilizadas na comunicação, nas opiniões, no modo de se
relacionar com os outros e, é claro, nas músicas que ouvem. Claro, todo estilo, não
musical apenas, mas ideológico, tem suas características e peculiaridades. Mas
por que estou destacando o rock n’ roll e o pagode? Não, não é só porque o
texto é sobre isso.
Posso está
completamente errado em relação a tudo que falei até agora. Muita gente vai
discordar também. Mas, a meu ver, quem é verdadeiro militante do rock n’ roll e
do pagode tende a ser mais fechado do que os militantes de outros seguimentos.
Talvez por conta disso haja essa rivalidade entre roqueiros e pagodeiros. A
ideia de “cabeça aberta” presente nos dois estilos parece não se aplicar quando
o assunto é aceitação do outro. Quando digo outro, digo outro no sentido deles
mesmos. Traduzindo. O roqueiro não é cabeça aberta em relação ao pagodeiro,
assim como o pagodeiro não é em relação ao roqueiro. Não estou dizendo que é
hora de vestir a camisa do Maiden e baixar um CD da Bronkka (eu mesmo não me
sinto nenhum um pouco com vontade de fazer isso), ou de apagar o CD novo do
Kole i Pan e botar Metallica no paredão, e sim que expor fragilidades em
questões que dizem respeito a gosto é um desgaste totalmente inútil.
Moral da história: os
adeptos, roqueiros e pagodeiros, por ficarem trocando gentilezas, acabam se
aproximando e fortalecendo o Elo.
FINAL,
FINALMENTE.
Apois, após falar
(falar bastante, mais do que eu esperava) de tudo isso, chegamos, finalmente,
ao fim da nossa comparação. Como eu disse anteriormente, não é fácil explicar
que rock e pagode são coisas parecidas. Se você conseguiu captar alguma coisa,
parabéns, você já começou a subir a Escadaria. Se você não entendeu nada,
comece a buscar a elevação. Se você discorda de alguma coisa, de tudo, ou quer
apenas se manifestar, não deixe de comentar aí embaixo. Até a próxima e
lembrem-se, o poder é de vocês! (????)
PS: Para arrebatar, um
videozinho mostrando duas coisas:
1) Os comentários do rapagão que postou o
vídeo não são legais e não condizem com o Elo.
2) O vídeo mostra rock n’ roll e pagode
bebendo da mesma fonte.
Valeu!
Genial pra porra :D
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